domingo, 25 de outubro de 2009

Porque será?

Quero tomar coragem e enviar para a produção da novela “Viver a Vida” de Manoel Carlos, que passa na TV Globo por volta das 21:00 horas, um depoimento a ser utilizado na novela no final de um capítulo. O texto diz o seguinte:

Meu nome é Carlos Alexandre, tenho 35 anos, sou divorciado, um filho com oito anos e me dou bem com a minha ex. Não sofri acidentes nem passei por situações que tive que ter uma superação. Passei vários momentos na minha vida em que tive de apelar para a minha força de vontade e motivação afim de alcançar meus objetivos. Não sou rico, trabalho para pagar as minhas contas e viver dignamente. Estudei muito para chegar aonde cheguei e preencho minha vida com tudo aquilo que sempre sonhei ter e busco mais. Procuro ser o melhor pai do mundo para meu filho educando e preparando-o para esse mundo real. Pretendo comprar um imóvel onde sempre sonhei morar. Estou sempre ajudando meus familiares, amigos e até pessoas que nem conheço, pois possuo condições financeiras para isso, mas tenho que confessar que poderia fazer muito mais. Sou feliz!

O que acham? Será que eles aceitarão e colocarão o texto no ar?

Na verdade isso é uma crítica a essa prática que Manoel Carlos iniciou na novela anterior e continua a fazer nessa. Os textos são “”” chaaatos”””, sempre falando coisa parecida. Se ainda fossem alguma coisa interessante como a senhora que confessou ter se masturbado e gozado ao ouvir a música do Roberto podia ser. A senhora em questão foi execrada pela sociedade, perdeu o emprego e sofreu toda espécie de perseguição só porque falou o que sentia e que muitos fazem escondidos.
Pobres hipócritas!

(A velha babada)

(Assista o vídeo. É só clicar)

Sou radicalmente contra os textos ao final de cada capítulo, mas se tem que existir aqueles textos “””” chaaatos”””, que sejam pelo menos criativos e diversificados e coloquem por favor um pouco de humor. Sempre apelam para o triste, o sofrido e a superação. São lindos, mas chega!

Como o povo gosta de uma história triste!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Rio de Janeiro! Você não vale nada, mas eu gosto de você......


Todo esse noticiário sobre a violência no Rio de Janeiro, neste último fim de semana – tudo aconteceu aqui bem perto e pude ouvir todo o tiroteio, tendo inclusive a rua em que moro ficado interditado para tráfego durante todo sábado – lembrei de algumas situações que passei que me puseram bem perto de uma favela.

No final dos anos cinqüenta meu pai, minha mãe, um irmão, uma irmã e eu viemos de Recife para o Rio de Janeiro em um navio Ita. Ita era a abreviatura da Companhia de navegação ITA e o navio que eu vim chamava-se Itacuruça. Como se diz: “Peguei um Ita no norte”!
Aqui ficamos hospedados na casa de uma prima no pé do moro de São João. Nas tardes quentes, ficávamos ali brincando e interagindo com o pessoal. A minha lembrança dessa época é a melhor possível. Eu tinha seis anos e as minhas primeiras amizades foram com alguns garotos da redondeza. Lembro até hoje de tia Nanci, que me adorava e durante muito tempo me visitou onde eu morava. Um dia sumiu e alguns dias mais tarde, soubemos que tinha morrido. Foi talvez minha primeira perda.Chorei muito!

Bem mais tarde uma tia de Recife veio ao Rio. Ela queria visitar uma antiga empregada e então procuramos por toda a favela do Esqueleto (esta favela ficava onde hoje fica a UERJ). Foi difícil e no final da tarde encontramos. Passamos o dia todo lá, almoçamos e o pessoal nos tratou bem e parecia que nos conhecia.
Outra vez, essa mesma tia queria encontrar um amigo que morava no fim da Rua Leopoldo, isto é, favela. Dessa vez, lembro de ter visto pessoas mal encaradas nos observando enquanto subíamos e para ir embora o filho da senhora teve que nos levar até lá embaixo. Espécie de escolta.

Bem mais recentemente, aceitei o convite de uma senhora faxineira do trabalho para uma feijoada na casa dela. Visual bonito da laje onde foi feito o almoço, mas tive que subir com ela, na hora marcada, para não nos perder e para o “pessoal” saber quem eu era. Foi recomendado não me afastar, nem conversar com qualquer um. Apesar de toda alegria e descontração, sentia uma espécie de medo no ar. Claro que para ir embora o filho dela me levou até o pé do morro.

É isso aí! A vida muda e as favelas também. Lá moram pessoas excelentes, mas viver perto delas é um perigo. Longe também. Nunca sabemos o que pode acontecer. É perigo constante. Aquele tempo do filme “Orfeu do Carnaval” não existe mais mesmo. Lembra muito uma roleta russa quando chego em casa de madrugada e nada me aconteceu. Parece que a qualquer momento podemos ser penalizados por teimar em viver no meio desse “stress”. Não me perguntem a solução, não sei!



Tal qual quando trabalhamos em um lugar perigoso e recebemos uma bonificação por “periculosidade”, deveríamos receber também o mesmo por morarmos aqui, enquanto as autoridades permitirem essa situação. Nem toda beleza natural paga o “stress” do simplesmente viver assim. Praias, Pão de Açúcar, montanhas, mar, mas .......

É que nem os versos daquela música:

“Você não vale nada, mas eu gosto de você....
..... e eu queria saber por quê?”