segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Rio de Janeiro! Você não vale nada, mas eu gosto de você......


Todo esse noticiário sobre a violência no Rio de Janeiro, neste último fim de semana – tudo aconteceu aqui bem perto e pude ouvir todo o tiroteio, tendo inclusive a rua em que moro ficado interditado para tráfego durante todo sábado – lembrei de algumas situações que passei que me puseram bem perto de uma favela.

No final dos anos cinqüenta meu pai, minha mãe, um irmão, uma irmã e eu viemos de Recife para o Rio de Janeiro em um navio Ita. Ita era a abreviatura da Companhia de navegação ITA e o navio que eu vim chamava-se Itacuruça. Como se diz: “Peguei um Ita no norte”!
Aqui ficamos hospedados na casa de uma prima no pé do moro de São João. Nas tardes quentes, ficávamos ali brincando e interagindo com o pessoal. A minha lembrança dessa época é a melhor possível. Eu tinha seis anos e as minhas primeiras amizades foram com alguns garotos da redondeza. Lembro até hoje de tia Nanci, que me adorava e durante muito tempo me visitou onde eu morava. Um dia sumiu e alguns dias mais tarde, soubemos que tinha morrido. Foi talvez minha primeira perda.Chorei muito!

Bem mais tarde uma tia de Recife veio ao Rio. Ela queria visitar uma antiga empregada e então procuramos por toda a favela do Esqueleto (esta favela ficava onde hoje fica a UERJ). Foi difícil e no final da tarde encontramos. Passamos o dia todo lá, almoçamos e o pessoal nos tratou bem e parecia que nos conhecia.
Outra vez, essa mesma tia queria encontrar um amigo que morava no fim da Rua Leopoldo, isto é, favela. Dessa vez, lembro de ter visto pessoas mal encaradas nos observando enquanto subíamos e para ir embora o filho da senhora teve que nos levar até lá embaixo. Espécie de escolta.

Bem mais recentemente, aceitei o convite de uma senhora faxineira do trabalho para uma feijoada na casa dela. Visual bonito da laje onde foi feito o almoço, mas tive que subir com ela, na hora marcada, para não nos perder e para o “pessoal” saber quem eu era. Foi recomendado não me afastar, nem conversar com qualquer um. Apesar de toda alegria e descontração, sentia uma espécie de medo no ar. Claro que para ir embora o filho dela me levou até o pé do morro.

É isso aí! A vida muda e as favelas também. Lá moram pessoas excelentes, mas viver perto delas é um perigo. Longe também. Nunca sabemos o que pode acontecer. É perigo constante. Aquele tempo do filme “Orfeu do Carnaval” não existe mais mesmo. Lembra muito uma roleta russa quando chego em casa de madrugada e nada me aconteceu. Parece que a qualquer momento podemos ser penalizados por teimar em viver no meio desse “stress”. Não me perguntem a solução, não sei!



Tal qual quando trabalhamos em um lugar perigoso e recebemos uma bonificação por “periculosidade”, deveríamos receber também o mesmo por morarmos aqui, enquanto as autoridades permitirem essa situação. Nem toda beleza natural paga o “stress” do simplesmente viver assim. Praias, Pão de Açúcar, montanhas, mar, mas .......

É que nem os versos daquela música:

“Você não vale nada, mas eu gosto de você....
..... e eu queria saber por quê?”

2 comentários:

  1. Desde que eu vim morar no Rio, sempre ouvi falar dessa onda de violência, mas nunca tinha visto nada parecido com o que eu presenciei nesses últimos dias. Clima de guerra nas ruas, medo, insegurança. E tudo bem pertinho da minha casa. Uma pena e uma tristeza. Fica a torcida para que a paz prevaleça.

    ResponderExcluir
  2. Acho que também cabe rever "Inútil Paisagem", do velho Tom jobim.

    ResponderExcluir